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ERGON DO APRENDIZ MAÇOM

O ERGON DO APRENDIZ MAÇOM

 

Ir.: Claudio Alvin Zanini Pinter*[1]

 

É imensa a alegria que sinto, neste instante, em poder compartilhar com meus irmãos o meu primeiro trabalho maçônico, apresentado nesta Augusta Loja Acácia do Sul n.33 na cidade de Tubarão. Todavia, também é um desafio, pois a atenção e acolhida com que fui recebido por todos os irmãos, em virtude de minha iniciação, triplica minhas responsabilidades e conseqüentemente faz com que se tenha uma maior vigilância dos sentidos.

Isso é fundamental para o desenvolvimento, crescimento, aperfeiçoamento  individual, cujas ações e comportamentos refletem-se no trabalho,  na sociedade e também em nossa instituição. Diz um ditado popular “o que muito lhe é dado muito lhe será cobrado”.

O sentimento vivenciado, seguido das emoções do despertar do EU interior, quando da iniciação do profano, está no íntimo de cada um, é algo inesquecível. Os cinco sentidos mais comuns (tato, visão, olfato, paladar e audição) são acelerados em alta freqüência para não perderem sequer nenhum décimo de segundo sobre tudo que está acontecendo. A transformação interna é notória  pelo processo iniciático, em sintonia com a magia do ritual e dos simbolismos. 

Para descrever sobre o significado da palavra “aprendiz”,  que é tão sublime pela grandeza  que representa na língua portuguesa,   registra-se com a primeira letra do alfabeto o “A” de amor. O amor é a essência de todo o processo de aprendizagem. Sem amor, não existe sintonia com o G.:A.:D.:U.:, não há elo, é como se os planetas decidissem por conta própria tomar outra direção e acabariam nas trevas onde jamais aparecerá a luz.

Em sua obra o “ABC do Aprendiz”, Puch (1999, p.104) esclarece que Aprendiz é uma fase  preparatória, ou seja,  em que o iniciado é preparado para outros estágios evolucionais.

Mas, afinal, quais são os instrumentos de trabalho de um aprendiz? Quando se fala trabalho, é importante ir mais fundo, na raiz dessa palavra e entender o seu significado.

De acordo com Santos Neto (1999) na  Grécia antiga, havia dois conceitos para o trabalho: “ponos”, seria o trabalho realizado pelos escravos, no sentido de punição. E o outro, denominado  “ergon”, representava o  trabalho realizado pelo homem livre. Daí o caráter científico, filosófico e artístico. Contudo, o sentido do trabalho do aprendiz tem que estar relacionado com uma gama de valores quanti/qualitativos, mais precisamente com o ergon.

No dicionário Aurélio,  aprendiz é conceituado como “aquele que aprende ofício ou arte.  Aquele que é pouco experiente; principiante”. 

E Assim como o colono precisa do arado para mover a terra, responsável pelo provimento do seu sustento e de sua família,   o neófito necessita de três instrumentos básicos, embora simbólicos, para o desenvolvimento de seu trabalho. São eles a régua, o maço e o cinzel.

a) A régua – “Antigo símbolo de retidão, método e lei.  A régua de 24 polegadas figura nas lojas simbólicas como instrumento de trabalho e medida de tempo”. FIGUEIREDO (1997, p.386). Considera-se o compromisso de administrar bem o tempo para o estudo e a meditação  em prol da humanidade.  Uma outra definição é que a régua   “engendra a linha reta, direção de nossa conduta, juntamente com o compasso. O círculo circunscrito por esse último conduz  o homem às suas possibilidades, circunscrevendo. Unido à linha reta nascida da régua, ideal suscetível de ser  prolongado ao infinito nos dois sentidos, concorre para simbolizar o absoluto e o relativo”  MELLOR (1989, p.212).

O simbolismo da régua de 24 polegadas representa a medida do tempo. Assim como o dia tem 24 horas, a régua de 24 polegadas  pode simbolizar um dia com três fases: as primeiras,  8 polegadas ou 8 horas,  aplicam-se ao trabalho propriamente dito; no segundo momento, passamos de 8 para 16 polegadas, ou seja, 16 horas  destinam-se a nossa higiene pessoal, alimentação, transporte, nosso aperfeiçoamento cultural, boas leituras, atenção à família, aos amigos, tempo para o ócio e para o lazer. Para totalizar esse ciclo de 24 polegadas, 24 horas ou ainda um dia, recomenda-se o descanso de 8 horas diárias. O autor ASLAN (1996) também defende essa tese.

A régua também simboliza a nossa conduta, nossas virtudes, nossa ética, enfim nossa integridade. Viver e praticar os princípios de valores e morais obedecendo às leis de nosso país e lei maior do G.: A: D.: U.:, que é justa e perfeita  a tudo e a todos que rege = Dharma. 

A régua também representa o nosso planejamento, as nossas metas. Sêneca já dizia “não há vento favorável  para quem não sabe aonde ir”.  Para reforçar essa idéia, há  uma estória  que foi repassada durante um curso sobre Administração do Tempo:

Imagine um vizinho que deposita todos os dias R$ 86.400,00 reais em um banco na sua conta corrente,  e você somente tenha que gastar. Não pode guardar. Esse dinheiro não é acumulativo. Se você não gastar, o outro dia irão  estar disponíveis R$ 86.400,00. O que você faria? Compraria tudo de que gostasse, viajaria, adquiriria o carro do seu sonho? A casa? O sítio? Enfim... Imagine esse vizinho tão bondoso que é o nosso G.: A.: D.: U.: ,que deposita em nossa conta todos os dias 86.400 segundos e nós só temos que gastar, não é possível guardar. Portanto, temos que gastar da melhor maneira possível dentro dos princípios éticos e do caminho do bem, do bom e do belo.

 

Segundo o professor José Henrique de Souza, Fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose, “A humanidade é infeliz por ter feito  do trabalho um sacrifício, e do amor um pecado”. Isso tem que mudar. Portanto, o trabalho tem que ser realizado com entusiasmo, com vontade e com garra.

O tempo é igual para todas as pessoas, independente de raça, sexo, credo, religião ou situação financeira.  Tem que ser gasto de forma racional. Não poder ser guardado. É bom  lembrar da parábola dos talentos que o Senhor recomenda multiplicá-los e condena a quem por medo,  preguiça  ou  insegurança, for  enterrar ou esconder. MATHEUS, (Capítulo  25, versículos  14 a 30).

Para Puch (1993, p.155-156), a régua “associa-se simbolicamente com a coluna da Sabedoria, com o Venerável, e, historicamente com Salomão”.

A régua simboliza a retidão de nossa conduta durante as vinte e quatro horas do dia.  E isso corresponde a nossos atos, ações, omissões e pensamentos. Por isso,  a vigilância dos sentidos é imprescindível para a nossa evolução.

            b) O maço – “é o símbolo da força dirigida ou controlada” ASLAN (1996, p. 619).

No tempo da maçonaria, operativa era usado pelos escultores e outros artistas.  Hoje, o maço representa a força de vontade que o neófito tem para escalar e lapidar a sua pedra bruta. A perseverança e a paciência são atributos indispensáveis nessa caminhada. A força mental para absorver  e praticar os novos conhecimentos. Jesus, que fora iniciado pelos essênios, procura falar através de parábolas, pois quem não estava em sintonia não as compreendia. 

Assim é a prática maçônica. Com vontade e garra é possível descobrir o grande tesouro que está dentro de cada um de nós, pois somos um átomo da divindade. Buscamos novas experiências para consolidar com o todo.

O entendimento filosófico requer horas de estudo e meditação. Requer tempo e também disciplina. De acordo com Puch (1993,p.138), “o maço simboliza a ação e o caráter volitivo do homem. É associado sinteticamente com a coluna de força, com o primeiro vigilante e, historicamente, com Hiram”.

            c) O cinzel – representa as “vantagens da educação”. ASLAN (1996, p. 243).  Pode  ser entendido como o “intelecto” FIGUEIREDO (1997,  p.103).  O cinzel atua de forma integrada com o malho.  Somente a força do malho poderia ser destruidora. O cinzel permite aparar,  aperfeiçoar, dar o toque final do trabalho.

Pode-se também dizer que  o cinzel é  a razão, a inteligência que vai nos permitir contemplar as maravilhas do universo. Acredito que nós somos centelhas divinas e, ao mesmo tempo, obreiros construtores do universo.

  Referendando a obra de Puch (1993,p.112), encontra-se o significado de cinzel como sendo o “símbolo da emoção e do caráter sensitivo do homem. É associado sincreticamente com a coluna da Beleza, com o segundo vigilante e, historicamente com Hiram Abib”.

            Enfim, os três instrumentos de trabalho, quando usados equilibradamente, representam um triângulo de três pontas. Sabe-se que o triangulo é um símbolo sagrado. Imagine esse triângulo sobre uma pedra, de preferência polida, simbolizando casa, lar, abrigo e proteção. Se cada um de nós compreender o mistério que rege essa simbologia e praticá-la no nosso dia a dia, o GADU estará em  júbilo. Afinal Força, Beleza e Sabedoria em equilíbrio é uma verdadeira apoteose para a divindade.

            Cabe ao aprendiz maçom identificar e fazer o bom uso dos  seus instrumentos de trabalho: régua, maço e  cinzel, para uma vida íntegra condizente com um SER INICIADO. Todavia, os instrumentos de trabalho têm que estar muito bem afinados para que a realização da obra  seja plenamente harmônica. Imagine em uma orquestra, um instrumento desafinado tolhe a magia e o espetáculo que a música é capaz de oferecer.

            Estando tudo em equilíbrio justo e perfeito, pode-se dizer: Um por todos e todos por um! Ergon, meu irmão!

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ASLAN, Nicola. Grande dicionário enciclopédico de maçonaria e simbologia.

     Londrina: A Trolha, 1996. v.1-4.

BÍBLIA, Sagrada. Tradução de Padre Antônio Pereira de Figueiredo. Rio de Janeiro: Delta,

   1980.

FIGUEIREDO, J. G. Dicionário de maçonaria: seus mistérios, ritos, filosofia, história.

   São Paulo: Ed. Pensamento, 1991. 550 p.

MELLOR, A. Dicionário da franco-maçonaria e dos franco-maçons. São Paulo: Martins

   Fontes, 1989. 353 p.

PUCHI, J. ABC do Aprendiz. Tubarão: Editora Dehon, 1993. 174p.

SANTOS NETO, Laudelino. O trabalho no novo pramantha. Tubarão: Ed. Unisul, 1999,

   11p. Trabalho apresentado na  51º Convenção da Sociedade Brasileira de Eubiose, São

   Lourenço, 1999.


[1] Trabalho apresentado no grau de Aprendiz, na Loja Acácia do Sul nº 33, Tubarão, 2001.

 
 
 
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