IGNORÂNCIA E ILUSÃO DO CONHECIMENTO
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Claudio Alvim Zanini Pinter[1]
IGNORÂNCIA E ILUSÃO DO CONHECIMENTO
Resumo:
Neste artigo pretende-se efetuar uma narrativa de caráter teórico-filosófico sobre a etimologia das palavras ignorância, Ilusão e conhecimento através da pesquisa de filósofos, escritores que corroboram com o tema. Ao pronunciar ou escrever uma ou outra palavra é importante compreender o que é e o que não é. Desde os tempos remotos até os dias atuais as sociedades iniciáticas proporcionam aos membros um local adequado para transmitir o conhecimento através do estudo teórico, ritualísticas, simbologias e alegorias, objetivando libertar o maçom da ignorância e da ilusão do conhecimento para lapidá-lo e tornar um Mestre Perfeito! A metodologia deste artigo é bibliográfica e descritiva, inserindo no contexto algumas reflexões pessoais que instigam o debate e a continuidade da pesquisa por outros estudiosos do tema, tais como a ilusão da riqueza material pelo desconhecimento da riqueza espiritual, o sábio e o tolo, o custo da ignorância, dentre outros.
Palavras-chave: Ignorância. Ilusão. Conhecimento
1. Introdução
Quando recebi a incumbência de escrever sobre Ignorância e Ilusão do Conhecimento, pensei no sentido pejorativo da palavra ignorante e quanto ela é usada de forma indevida e indelicada tanto na escrita como na fonética. Um outro pensamento foi sobre a arrogância em função da ilusão do conhecimento, do saber pelo saber, sem uma causa nobre. A ilusão por pior que seja, parece às vezes um mal necessário. Vejamos o que o Professor Henrique José de Souza, Fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose, disse:
A verdadeira iniciação é aquela que obriga o homem a descobrir por si mesmo (pela meditação) o que não pode desde logo, ser desvendado diante de seus olhos, nublados pelos densos véus da matéria em que se acha envolvido. Daí a frase: Do ilusório conduz-me ao real, das trevas à luz, da morte à imortalidade.
Por isso, acredito que através do itinerário iniciático, ou seja através da prática vivenciada nos graus o maçom pode-se livrar das amarras da ignorância, do vício e das trevas para ir ao encontro do Deus único e verdadeiro.
O ilusório faz-se necessário tendo em vista que o homem ainda não despertou a centelha divina dentro dele. Esta procura desenfreada “fora de si”, na riqueza material, na ascensão profissional a qualquer custo, na busca do prazer pelo prazer, da luxúria... Tudo isso vem denegrindo a imagem do homem como centelha divina.
O objetivo geral é descrever sobre a Ignorância e Ilusão do Conhecimento no contexto teórico-filosófico. Os objetivos específicos são: a) revisar a literatura sobre o tema; b) conceituar as palavras ignorância, ilusão e conhecimento esclarecendo o que é e o que não é; c) pesquisar sobre obras dos principais filósofos sobre o tema; d) inserir algumas reflexões pessoais durante esta narrativa; e) compreender alguns níveis de conhecimento; propor outras pesquisas para aprofundar este tema. Para facilitar o desenvolvimento deste artigo, elaborou-se a seguinte problemática: Como é possível conviver e aceitar nos dias atuais irmãos com a veste da ignorância e a ilusão do conhecimento? Nos dias atuais, como é possível o maçom libertar-se da ignorância e da ilusão do conhecimento?
A metodologia utilizada para responder o enunciado deste problema foi a bibliográfica. Iniciamos pesquisando algumas obras que tratam sobre o tema, observando e contando com nossa experiência vivenciada. A pesquisa será bibliográfica, que conforme Rauber (2014, p.157), “investigam-se as informações obteníveis do acervo bibliográfico da humanidade”. Após a definição do tema, efetuamos uma pesquisa bibliográfica para que nos permitisse compreender a etimologia da palavra ignorância, ilusão e conhecimento baseado em autores e/ou filósofos consagrados pela literatura.
Acredito que os sete ramos do conhecimento, baseados na Doutrina Secreta da Blavasky (2012), poderão auxiliar na descrição desta pesquisa. Finalizando, desejo que seja um tema desafiador, tendo em vista que pouquíssimo se sabe cientificamente sobre a influência da verbalização destas palavras, ou seja, a emissão dos sons, o estudo da numerologia x cabala, pela escrita da palavra, além é claro das simbologias, alegorias ou da própria mitologia grega ou romana. Como não temos a pretensão e nem objetivo de esgotar este tema, as limitações apresentadas poderão ser desenvolvidas por outros pesquisadores para contribuir com a cultura maçônica.
2. Conceitos Básicos
Os conceitos e algumas origens das palavras ignorância, ilusão e conhecimento que fazem parte desta narrativa são fundamentais para o desenvolvimento do trabalho proposto. Vejamos:
IGNORÂNCIA: deriva do Latim IGNORANTIA, de IGNORARE, “não saber”, formada por IN-, “não”, mais GNARUS, “sabedor, que domina um assunto”, relacionado a GNOSCERE, “conhecer, saber”. De acordo com Houaiss (2001) Ignorância “1. Estado daquele que ignora algo, que não está a par da existência de alguma coisa. 2. Estado daquele que não tem conhecimento, cultura, em virtude da falta de estudo, experiência ou prática. 3. Estado social no qual a instrução, a cultura é extremamente precária.. 4. Atitude grosseira”.
ILUSÃO, do latim illusio, um termo de retórica que equivalia a “ironia”. Tratava-se de um artifício do discurso em que o orador debochava de um adversário, fingindo dizer coisa diferente do que ele na realidade estava falando. O termo se forma por in-, dando a sensação de inclusão, mais ludere, de ludus, “jogo, brincadeira”, que deriva do Indo-Europeu leidh-, “brincar”. O uso do prefixo des, tem uma conotação de negativo, onde surge a palavra desilusão.Uma outra palavra próxima ilusionista. Através dos truques levo o público a cometer erros de percepção.
A palavra “CONHECIMENTO” tem sua origem no Latim da Roma antiga. Ela vem de COGNOSCERE, que podia ser traduzida como “conhecer” ou “saber”. Este termo latino é composto por COM, “junto” e GNOSCERE, “obter conhecimento”. Obviamente as palavras “conhecer” e os derivados tem a mesma origem. Etimologia.
De acordo com Houaiss (2001) gnose significa: “1.Ação de conhecer, conhecimento, ciência, sabedoria. 2. FIL OCT REL conhecimento esotérico da verdade, espiritual, combinando mística, sincretismo religioso e especulação filosófica, que diversas seitas dos primeiros séculos da era cristã, consideradas heréticas pela Igreja, acreditavam ser essencial à salvação da alma”.
Consoante a palavra conhecimento, baseado no Glossário Teosófico de Blavasky 2012), Vidyâ, do sânscrito, significa:
Saber, conhecimento oculto. Há quatro Vidyâs que fazem parte dos sete ramos do saber mencionados nos Purânas e que são: Yajña Vidyâ, ou seja, a prática dos ritos religiosos com o objetivo de produzir certos resultados; Mayâ Vidyâ, o grande conhecimento mágico, atualmente degenerado no culto Tântrico. Guya Vidyâ, a ciência dos mantras com seu verdadeiro ritmo ou canto, dos encantamentos místicos, etc., e Âtmã Vidyâ, a sabedoria verdadeiramente espiritual e divina. Blavasky (2014, p. 211)
Blavasky (2014, P. 211-212) esclarece que sem o auxílio de Âtmã-Vidya que proporcione a chave para este conhecimento, o homem conseguirá explicar apenas nas três primeiras ciências mencionadas anteriormente, consideradas superficiais. É como tivesse acesso apenas aos fragmentos de um livro, resultando num conhecimento deformado. Ressalta que fora da metafísica não há filosofia oculta nem esoterismo. Seria impensável explicar o mais íntimo e sagrado das operações da alma e da inteligência através do cadáver.
Um outro entendimento, pode-se inserir a palavra gnosis, que do grego significa conhecimento. Um conhecimento transcendental que possibilita ao homem iniciado responder os três questionamentos: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?, representado pelos três graus das lojas simbólicas. Este conhecimento na sua magnitude é o combustível ou a senha indispensável para o autoconhecimento, cujo poder central está focado na transformação das nidanas, ou seja, tendências negativas para as escandas, isto é, tendências positivas. Cabe relembrar a célebre fase do filósofo Sócrates: “Homem conhece-te a ti mesmo”.
3. Os Riscos da Ilusão
A ilusão é as vestes pesadas as quais o maçom precisa ter vontade, força e sabedoria para ir retirando durante sua existência. É um trabalho hercúleo e contínuo para manter-se no prumo, vencendo suas paixões e submetendo-se as mais nobres virtudes.
A ilusão acompanha o homem desde os termos remotos. Na própria Bíblia Sagrada tem-se o registro de Jesus sendo iludido pelo Satanás, através de promessas de riquezas e glórias. É lógico que Jesus, sendo um ser iluminado não se permitiu ser enganado.
O homem comum facilmente é iludido por falsas promessas, loterias premiadas, compra de um lugar no paraíso, amor interesseiro, dentre outros. No campo da ótica, as imagens podem mostrar um rosto de uma rainha ou de uma velha feiticeira, de espaço, de tamanho, de movimento...
Na obra O Homem que Calculava, Malba Tahan (pseudônimo do professor Júlio César de Melo e Souza) narra vários capítulos lúdicos, unindo ciência e ficção, prendendo o leitor pelo entretenimento popular com as histórias fascinantes envolvendo o manejo dos números de forma insólita, mágica ou ilusionista.
Na mesma perspectiva a obra Estratégias do Pensamento, de Larry E. Worod, dentre os diversos casos que ele narra, destaco “O mensageiro”, que descreve a história de três hospedes que pagaram 30 dólares por um quarto. Na saída um gerente concede um desconto de 5 dólares e solicita ao mensageiro para entregar o troco aos hóspedes. Como eram três, o mensageiro, devolveu um dólar para cada um e embolsou dois dólares Portanto, se eles haviam pago 10 dólares cada um, menos um que receberam de volta, significa que pagaram 9 dólares, certo? Não!!! Pensemos: 9 vezes 3 = 27 mais os dois que o mensageiro embolsou de forma indevida = 29.Pergunta-se, onde foi parar o outro dólar para completar os 30 dólares pagos? Portanto, a maneira de como é estruturado o problema, gera uma ilusão da falta de um dólar, que na verdade não está faltando, pois não há diferença alguma.
Quem já não foi iludido ou enganado? Seja no amor, nos negócios, na amizade, na política, na loja, na família, através do filho, do genro, do irmão, dentre outros. Qual a sensação? Ódio e vingança para os ignorantes. Para o verdadeiro iniciado, a prática do perdão, da prudência e do amor! E é assim que se transforma ...
Cabe referendar algumas passagens extraídas da Bíblia Sagrada: “Muitos se perderam por suas especulações e se extraviaram por suas ilusões perversas.” Eclesiástico 3, 24. Neste mesmo pensamento, temos “Quem cultiva seu campo, se saciará de pão; quem busca ilusões, se saciará de miséria” Provérbios 28, 19. “...O testemunho de Javé é firme, instrução para o ignorante.” Salmo de Davi 19, 8.
No diário de um Adepto, citado na obra o Verdadeiro Caminho da Iniciação, do Professor Henrique José de Souza ( 2001, p. 159), encontramos uma frase instigante: “O ignorante diz: Eu sei. O discípulo: Assim o aprendi. O Mestre: Assim diz a Lei”. É a “linguagem oculta, como poder de comunicação divina.”
Portanto, a evolução é a retirada mayávica física e psíquica de uma zona de conforto passageira, para um estágio em que o esforço individual contínuo e permanente é fundamental para transcender das trevas para luz, do ilusório para real.
Outra frase sobre nosso tema, esta atribuída a Stephen Haswking, físico teórico e cosmólogo britânico diz: “O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância; é a ilusão do conhecimento”. Já para Rodrigues (2016), a ilusão do conhecimento possui uma extremidade oposta que denominou de falsa ignorância. E continua:
A ilusão de conhecimento é detectada muitas vezes em adeptos ferrenhos de ideologias políticas e religiosos fundamentalistas; a falsa ignorância geralmente vem junto com adeptos de diversas pseudociências. Mas estão por aí em todas as cores e sabores.
É notório que para controlar um homem alimentado pela ilusão do conhecimento ou quer pela “falsa ignorância”, será preciso muitos homens para libertá-lo, se assim o desejar, pois ele é prisioneiro de suas próprias ideias.
4. Etapas do Conhecimento ou Níveis do Conhecimento ou Hierarquia do Conhecimento.
O acesso cada vez maior dos indivíduos a um banco de dados através do Google, obras digitais, E-books, vídeos no You Tube, ChatsGPT, notícias, plataformas científicas, dentre outros tem gerado a falsa ideia de que o homem atual esteja transbordando conhecimento.
Contudo não podemos negar que o acúmulo de informações vem tornando a vida do homem mais pesada, grau de stress mais elevado, principalmente quando não sabe separar “o joio do trigo”. O conhecimento é como uma semente, precisa ser cuidada e regada para dar bons frutos. O conhecimento científico tradicional, a começar pelos bancos escolares segue a legislação no Ministério da Educação, de acordo com as leis brasileiras, respeitando a idade mínima, conteúdos por períodos de tempo previamente definidos.
O interstício de um ano curricular para o outro é o momento para o conhecimento criar bases e dar maior sustentação na formação técnica e profissional. O mesmo ocorre com o processo iniciático, que prevê um tempo de um grau para outro destinado para o estudo, meditação e aprofundamento dos temas filosóficos.
A magia deste aprendizado com “A” maiúsculo é pelo esforço mental para poder discernir o conhecimento e sua aplicabilidade no contexto familiar, profissional, na loja e onde quer que estejamos presentes. Por isso, o conhecimento iniciático tem que ter o poder transformador, muito bem descrito pelo Prof. José Henrique de Souza, destacando a tríade: transformação, superação e metástase.
Se não tiver o poder transformador o homem apenas será um “papagaio” do conhecimento que já foi produzido. O poder de superação frente as mazelas produzidas por homens ditos eruditos ou ignorantes que numa linha tênue pouca diferença existe, mas cujos efeitos são catastróficos. E finalmente a metástase, o poder de sinergia, de re-ligação com a divindade.
Baseados na visão judaica sobre as Escrituras (Torá e Tanasch) ou nas Bíblias Cristãs ao Antigo Testamento, pode-se chegar a um nível mais profundo de interpretação denominado Pardês. Esta sigla Pardês, apresenta quatro abordagens das Escrituras Sagradas no Judaísmo : a) Pshat – o que consta literalmente no texto; b) Remez – ensinamento mais profundo com o uso de alegorias destinados aos indivíduos que já estão mais familiarizados com a literatura do Torá; c) Dhash – indivíduos que já possuem grande conhecimento do Torá, conseguem analisar, interpretar e comparar ocorrências semelhantes; d) Sod – conhecimento místico ou secreto. Destinado aos indivíduos que possuem um alto conhecimento do Torá.
Cabe ressaltar que nenhuma destas fases ocorre contradição do ensinamento mas a revelação de um nível mais profundo de acordo com a preparação de quem irá recebê-lo.
Os níveis ou etapas do conhecimento tem uma razão preventiva do uso indevido de ferramentas por alguém que não esteja de fato habilitado para tal. Isso vem ao encontro das sociedades iniciáticas de manter um certo mistério ou segredo do conhecimento para não cair nas “mãos erradas”.
O que é seria bom, doce e belo pode-se tornar-se em amargor e caos.
Gostaria de registrar um relato pessoal: Caminhando no Farol de Santa Marta, no município de Laguna, em companhia da minha filha Joana (seis anos) ela deparou-se com a seguinte inscrição numa placa: Cuidado! Cobras venenosas!, Obviamente subiu no meu colo. Não quis mais caminhar em solo até sair desta área de risco. Percebe-se que enquanto desconhecia as letras poderia caminhar no mesmo local sem problemas. Portanto, neste caso o conhecimento (aprender a ler) mais o discernimento despertou o medo e a insegurança. Portanto, o uso devido deste conhecimento foi importante para prevenir-se de um ataque de surpresa de uma cobra.
Consoante o processo iniciático, o conhecimento vai tirando os véus nebulosos que trazemos conosco. O êxito está como e quando usar eficazmente o conhecimento no nosso dia a dia em prol de um mundo mais fraterno, igualitário e justo para todos.
Cabe citar a frase de Émile Zola, escritor francês, criador e representante expressivo da literatura naturalista: “É pelo livro e não pela espada, que a humanidade vencerá a mentira e a injustiça e conquistará a Paz Final da Fraternidade entre os povos”. Sim, são os bons livros que libertará o homem do fanatismo e do obscurantismo. Cabe citar a frase do filme clássico Poder e Cobiça- Waal Street “O homem fita o abismo. Nada olha de volta pra ele. Nesse momento, o homem encontra seu caráter. E isso é o que o mantém fora do abismo.” O conhecimento é muito bom. No entanto, é preciso saber usá-lo.
Se o indivíduo possui o domínio sobre finanças, faça o bom uso deste conhecimento dentro dos princípios éticos, legais e morais. Um ser de luz, evitará que se espalhe o caos, fruto do seu egoísmo, desarmonizando o mercado e a vida das pessoas. Uma criança que deseja ser médica não poderá fazer o uso do bisturi quando desejar. Para isso, haverá uma ampla formação teórica e quando estiver na idade madura, aí sim, fará o uso deste instrumento com conhecimento e sabedoria.
Na mitologia Grega, temos a lenda do Gigante Promoteu (Aquele que pensa antes). Após a criação do universo, dos animais e finalmente o homem a deusa da Sabedoria Atena soprou o espírito. Os seres humanos cresceram e se multiplicaram... Mas, careciam dos ensinamentos de subsistência e conhecimento do divino. Prometeu repassa os segredos da agricultura, da pesca, da profecia, da astronomia, indispensáveis para o desenvolvimento. Estava faltando ainda o fogo que Zeus havia negado. Prometeu, contrariou Zeus, pegou um ramo e aproximou do sol, trouxe o fogo para a terra. Diz a lenda que Prometeu foi punido eternamente tendo o fígado devorado por uma águia todas as noites. Como era um deus o fígado regenerava todas as manhãs. Com o consentimento de Zeus Hércules, finalmente matou a águia e libertou Prometeu deste sofrimento.
Penso que Zeus, estava tentando defender os povos para que este conhecimento não caísse em mãos erradas e pudesse ser utilizado para destruir as criações do próprio homem. O tempo foi passando e o uso do fogo hoje é comum e de fácil acesso. Nada impede que o ignorante o utilize para produzir o caos.
Notória a frase do filósofo Francis Bacon: “A satisfação da curiosidade é, para alguns, o fim do conhecimento”. Por isso, muito bem descrito na Câmara de Reflexões, durante o ingresso do neófito na maçonaria “se a curiosidade te traz aqui, volte”. E finalmente Blavasky ( 2014, p. 208) procura discernir Sabedoria de Conhecimento, estabelecendo “um limite do que deve dizer em determinado momento...Lembrai-os de que: ...o Conhecimento reside em cabeças com pensamentos alheios. A Sabedoria, em mentes que refletem por si mesmas...”.
5.Consideções Finais
Ao descrever as palavras ignorância, ilusão e conhecimento conseguimos elucidar um pouco mais o seus significados do que é e o que não é, visando o adequado uso dos termos.
Acredita-se que os objetivos geral e específicos do artigo foram alcançados, a partir dos conceitos e etimologias das palavras, inseriu-se algumas reflexões e experiências pessoais que o prezado leitor absorberá ou descartará, fruto do estado de consciência.
O risco da ilusão e as etapas do conhecimento contextualizam lendas, histórias e experiências vivenciadas que estimulam a reflexão pessoal diante desta narrativa. Para virar esta página, exigirá de cada um de nós um trabalho contínuo e permanente, digamos, um esforço hercúleo para vencer a ignorância, fruto das vicissitudes por uma vida fácil presa as paixões mundanas e falsas conquistas no campo material, do poder pelo poder muito bem trabalhado na obra A revolução dos Bichos, de George Orwell (1987, p. 135) que descreve uma visão nebulosa dos regimes totalitários encerrando a obra com a frase”...mas já se tornava impossível distinguir quem era homem, quem era porco”.
O tema deste artigo é altamente complexo e profundo, atravessa uma linha tênue entre história, lenda e filosofia, mas ao mesmo tempo permite reflexões do eu e do Eu Superior, vindo ao encontro do Eu Divino.
Sugerimos assistir o filme Alexandria, de Alejandro Amenábar, que apresenta vida e obra de Hipátia, filósofa, matemática e astronomia na Escola de Alexandria, uma mulher revolucionária para a época, através dos questionamentos com seus alunos, e/ou em praças públicas chama a atenção dos governantes. Isso lhe custará a provida vida.
O livro O nome da Rosa, de Umberto Eco, bem como o filme nos remete a idade das trevas, onde o conhecimento era restrito a um pequeno grupo dominante a custa da manutenção da ignorância a uma grande parcela da população.
Todavia, o maior combustível dos regimes ditatoriais é elevar os níveis de ignorância dos governados, desde a imposição de ideologias políticas, de propagação de ideias revolucionárias, de crenças religiosas, de culturas, dentre outros. Este pensamento coincide com a famosa afirmação de Tancredi ao príncipe de Salina na obra El Gatopardo: trata-se de que as coisas mudem para que tudo continue igual.
Ao estimular retirar os véus da ignorância, mesmo na sociedade atual tem um preço. Inicialmente pelo rompimento das estruturas atuais que massificam, marginalizam e escravizam o ser humano. Esta luta é contínua porque deve começar com a mudança de cada indivíduo e assim, você começa a provocar mudanças na família, nas empresas, na sociedade, na política e acaba contagiando um país inteiro, e, finalmente o mundo.
Não é por acaso que consta no Salmo de Davi, 19, 8 consta: “O testemunho de Javé é firme, instrução para o ignorante”.
Em nenhum momento pretende-se esgotar este tema, por isso, sugerimos outros pesquisadores a continuarem a pesquisa, incluindo experiências pessoais, simbologias, alegorias, lendas, que serão sempre bem-vindas para oportunizar desbastar a pedra bruta, libertando o verdadeiro maçom da ignorância e da ilusão do conhecimento. Que assim seja!
7. Referências
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BÍBLIA, Sagrada. Tradução de Padre Antônio Pereira de Figueiredo. Rio de Janeiro: Delta, 1980.
BLAVATSKY, Helena P. Glossário Teosófico. 6. Ed. São Paulo: Ground, 2012.
BLAVATSKY, Helena P. A Doutrina Secreta. V. 1. Ed. São Paulo: Pensamento, 2012.
GABINETE DE HISTÓRIA. Resenha do filme Alexandria (Ágora), de Alejandro Amenábar. 2011. Disponível em: <http://gabinetedehistoria.blogspot.com.br/2011/08/resenha-do-filme-alexandria-agora-de.html>. Acesso em: 16 fev. 2018.
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[1] Claudio Alvim Zanini Pinter, Administrador professor Universitário, Doutor em História. E-mail: cazp1603@gmail.com
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