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Panegírico: Ir Lauro Severiano Müller

Atualizado: 3 de jun.

Panegírico

Lauro Severiano Müller

Patrono da Cadeira 43 da AMVBL


Roberto Zardo, Cadeira 43 da AMVBL.

Florianópolis, junho de 2024.



Sinto-me duplamente honrado ao escrever este panegírico. Primeiro, por ter sido gentilmente convidado a participar da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras (AMVBL) e segundo, por ter a honra de homenagear o conterrâneo e Irmão Lauro Severiano Müller como meu patrono.


A AMVBL é pioneira neste rico e inexplorado ambiente virtual, tendo sido criada, em pleno pico da pandemia do Covid-19 em 21 de abril de 2021 por sete valorosos Irmãos: Paulo Benevenute Tupan, Kennyo Mahmud Soares Oliveira Ismail, Antônio Juliano Breyner, Izautonio da Silva Machado Junior, Eleutério Nicolau da Conceição, Amilcar Alabarce Mathias e Alexandre Gomes Galindo, todos unidos com o propósito de integrar uma rede nacional de escritores maçons, voltados para o desenvolvimento da produção literária, tanto no campo maçônico quanto na língua e na literatura em geral, trazendo para si o desafio de incorporar e integrar à produção do conhecimento, os avanços tecnológicos, como traço central de sua dinâmica e estrutura de funcionamento (AMVBL, 2024).


Em que pese os dados biográficos, políticos, militares e acadêmicos do Irmão Lauro estejam dispostos de forma abundante e crível, nos deparamos com desafio hercúleo para obter dados críveis quanto a sua vida e obra no âmbito maçônico para compor este tributo ao Irmão Lauro Severiano Müller (respeitosamente referenciado doravante apenas por Irmão Lauro).


O Irmão Lauro, agora patrono da Cadeira 43 da AMVBL (devidamente reconhecido e reverenciado desde 21 de abril de 2023, data da posse deste autor junto aos demais confrades). A escassez de dados maçônicos, pode servir de motivação e estímulo para novas pesquisas aos interessados em conhecer a trajetória deste valoroso Irmão acadêmico, com fatos relevantes dessa personalidade marcante da história maçônica e brasileira.


Com vistas a facilitar a leitura e interpretação deste panegírico, seu conteúdo foi ordenado de forma a enaltecer a trajetória do Irmão Lauro, iniciando por seus dados biográficos, sua trajetória militar, sua vida política, sua vida maçônica junto a Sublime Ordem, sua imortalidade como acadêmico da Academia Brasileira de Letras (ABL) e por fim, encerrando com os reconhecimentos recebidos por mérito, tanto em vida quanto póstumos.


Por obvio que este singelo trabalho não busca esgotar sua tão rica trajetória, mas sim, procurar um direcionamento a todos que acertadamente buscam por se enriquecer moral e intelectualmente através da rica história do Irmão Lauro.


Nossa responsabilidade foi alargada pois o Irmão Lauro é um imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras) que em seu logotipo usa a expressão latina “Ad immortalitatem” (Rumo à imortalidade). E ao elegê-lo como nosso Patrono na AMVBL, precisamos honrar a expressão latina “Sapere aude” (Ouse saber) que está explicitada no centro do seu logotipo. A expressão completa atribuída ao romano Quinto Horácio Flaco (65-8 a.C.), poeta lírico, satírico e filósofo, é “Dimidium facti qui coepit habet: sapere aude” (Aquele que começou está na metade da obra: ouse saber), e popularizada pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) tornando-a associada à Era do Iluminismo, durante os séculos XVII e XVIII. Provavelmente, neste simples panegírico, não alcançaremos a plenitude de tudo aquilo que encerram as expressões dos logotipos das duas Academias, cabendo-nos entender que ao começarmos esta obra, talvez, ousando saber, já tenhamos trilhado a metade do caminho. Na Figura1 podemos apreciar os dois logotipos e um retrato do Irmão Lauro.


Figura 1 Logotipos da ABL, da AMVBL e retrato de Lauro Severiano Müller

Fontes: ABL, AMVBL e site Agência AL (ALESC).


Ao pesquisarmos sobre nosso Patrono, nos deparamos com abundantes materiais versando sobre sua biografia, suas vidas militar e política e sua passagem pela ABL. Destacamos as obras de Marcos Konder e de Ida Vicenzia. Igual mérito para o site: Memória Política de Santa Catarina, um projeto conjunto da ALESC (Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina) por meio da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira e da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), por intermédio do Departamento de Sociologia e Ciência Política. Em relação a sua vida acadêmica recorremos ao completo site da própria ABL que nos forneceu importantes informações.


Infelizmente enfrentamos um desafio hercúleo para obter dados críveis sobre sua vida dentro da Sublime Ordem. Fizemos tentativas infrutíferas tanto com a Potência regular como com Lojas em sua cidade natal, Itajaí/SC. Conseguimos algumas informações criveis junto a uma Loja Maçônica que leva seu nome, na cidade de Florianópolis/SC. Nossa dificuldade para obtenção dos dados da vida maçônica pode servir de estímulo para novas pesquisas para todos interessados em conhecer a trajetória maçônica deste valoroso Irmão acadêmico, bem como o cuidado da nossa e outras Academias para registrarmos os fatos relevantes de personalidades marcantes na história maçônica e brasileira.


A família Müller fazia parte do primeiro contingente de imigrantes alemães que se fixou na colônia de São Pedro de Alcântara na região metropolitana do que hoje é Florianópolis/SC, em 1829. Os avós paternos do Irmão Lauro, Johann e Anna Maria Müller eram de origem camponesa. Por diversas vezes Lauro foi tachado como “alemãozinho de Santa Catarina”. Nasceu no dia 8/11/1863, na cidade de Itajaí/SC. Filho de Peter Müller e Ana Maria Michels Müller, humildes agricultores de origem alemã. O casal Müller teve seis filhos: Maria, Amélia, Eugênio, Urbano, Pedro e o caçula Lauro. Apenas Lauro e Urbano se dedicaram aos estudos. Os demais ficaram na região de nascimento e se dedicaram a atividades agrícolas.


Lauro teve com o professor público Justino José da Silva suas primeiras aulas de alfabetização. Era considerado um guri esperto, observador e sutil. Muitas vezes ele sabia que seu professor estava equivocado, pois sua curiosidade o fazia pesquisar no único dicionário que tinham em casa, mas usava as palavras corretas e conservava em sua memória os deslizes do seu amado mestre, prenúncio de uma futura e brilhante carreira como hábil político e negociador. Depois frequentou a escola alemã de Itajaí e mais tarde foi aluno do professor alemão Bruno Scharn, em Blumenau, onde residiu com seus tios Gertrud Müller e Bernhard Händchen. O aprendizado da língua de seus avós foi vantajoso em algumas situações e motivo de preconceitos em outras. Outro mestre lembrado foi Desidério, um mulato, que iniciou Lauro na arte da dança capoeirista.


Mesmo com seu pai desejando-lhe a profissão de agrimensor, quando Lauro completou 14 anos foi trabalhar e estudar no Rio de Janeiro. Ele convivia com seu tio, Leopoldo Riegel, e trabalhava como balconista em uma loja de armarinhos, de um amigo do tio, que ficava na Rua da Constituição, área central da cidade. Ao perceber o interesse de Lauro pelos livros e aguçada inteligência seu tio conseguiu uma vaga em um curso preparatório para a Escola Militar, o Colégio Cunditt, na cidade de Niterói. Valendo-se de sua inteligência e capacidade de antever as coisas, Lauro percebendo que teria poucas chances de conseguir vaga na prestigiada Escola Militar de Realengo entrou para o Corpo de Alunos alistando-se como praça. Todavia, Lauro não tinha físico adequado para suportar os exaustivos exercícios físicos militares, acabou adoecendo e retornando para seu estado natal.


Com a saúde recuperada, Lauro voltou ao Rio de Janeiro para prosseguir seus estudos e se formar como engenheiro militar. Segundo historiadores, Lauro aderiu firmemente aos ideais republicanos na Escola Militar, tendo como mentor o Irmão Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891) militar, engenheiro, professor e político brasileiro. Após sua formatura, em 11/5/1893 casou-se com Luiza Henriqueta Ferreira de Andrade, carioca, filha de Antônio Pedro de Andrade de nacionalidade portuguesa (Ilha da Madeira). Tiveram três filhos: Laura Müller, nascida em 12/2/1894; Lauro Müller Filho, nascido em 3/4/1896 e Antônio Pedro de Andrade Müller, nascido em 30/5/1898. Dos filhos, apenas Antônio Pedro dedicou-se a política.


Na Escola Militar da Praia Vermelha foi promovido em 1885 ao posto de Alferes. Formou-se em engenharia militar em 1888. Suas promoções seguiram-se até 1921, quando chegou a patente de General de Divisão do Exército Brasileiro. Foi sucessivamente promovido a segundo-tenente em 1889, primeiro-tenente em 1890, major em 1900, tenente-coronel em 1906, coronel em 1912, general de brigada em 1914 e general de divisão em 1921.


A filosofia positivista de Auguste Comte, cujo ideal era “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”, ajudou na organização do pensamento da República instituída em 1889. Durante a formação militar Lauro teve como professor e mentor, o Irmão Benjamin Constant, um dos líderes do movimento que resultou na Proclamação da República no Brasil, em 15/11/1889.


Pelo histórico de realizações, Irmão Lauro, provavelmente tenha sido um dos melhores políticos que Santa Catarina já ofereceu ao Brasil. Pelas suas competências e habilidades políticas foi quatro vezes governador do estado, sendo a primeira aos 26 anos de idade, Senador, Deputado Federal, Embaixador, Ministro da Viação e Obras Públicas e Ministro das Relações Exteriores. Adicionalmente foi ativo nas decisões políticas do Estado e do Brasil e por várias vezes foi conciliador nas crises partidárias de Santa Catarina. Irmão Lauro foi um dos fundadores do PRC (Partido Republicano Catarinense) e é reconhecido com um republicano histórico.


Ao pesquisarmos dados sobre a trajetória maçônica do Irmão Lauro, enfrentamos dificuldades pela falta de materiais criveis. Vemos aqui oportunidade para, como acadêmicos, dedicarmos tempo e recursos para registrar o histórico de valorosos Irmãos, evitando no futuro as dificuldades que encontramos no caso do Irmão Lauro. Os escassos dados que obtivemos coincidem a data de Iniciação como sendo em 14/3/1888, na cidade do Rio de Janeiro, supostamente na “Loja 2 de dezembro” quando ainda Segundo-Tenente. Segundo o Irmão Jorge Paulo Krieger Filho o Irmão Lauro viu com simpatia a formação da 1ª Loja Maçônica, em sua cidade natal, a "Acácia Itajaiense” fundada em 24/6/1911, pois tanto na 1ª Administração (1911) como na 2ª (1912) o nome do Irmão Lauro, Grau de Mestre, aparece como representante da Oficina na Assembleia Geral do Grande Oriente do Brasil, como tal tendo sido anotado o seu nome no competente "Registro de Administração", ainda hoje existente no "Arquivo Velho". Infelizmente não encontrado durante nossa pesquisa.


De acordo com Vicenzia (2016) coube ao Irmão Brazílio Celestino de Oliveira Júnior (1912-1999) em 1956 homenagear o Irmão Lauro como patrono de uma Loja Maçônica na cidade de Florianópolis. O Irmão Brazílio, Patrono da Cadeira 32 da Academia Catarinense Maçônica de Letras, durante as homenagens ao Irmão Lauro fez citação aos bacharéis de Direito ligados à Maçonaria e à filosofia de Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1875) filósofo francês que formulou a doutrina e ficou conhecido como "pai do positivismo" que marcou o ideal dos Maçons e “Ordem e Progresso” ficou sendo o selo da bandeira republicana. Irmão Brazílio citou o Irmão Lauro como participante brilhante do governo do Irmão Francisco de Paula Rodrigues Alves (18481919), comparando-o com Pereira Passos, Oswaldo Cruz e Paulo de Frontin com o sendo por meio destes homens que o Rio de Janeiro se tornara “uma atraente capital, com seus cais acostáveis, abundância de água pura, a febre amarela foi banida dos seus domínios, e o espaço aberto pela avenida Central embelezou a cidade”. Percebemos aqui aquilo que exaustivamente falamos e infelizmente pouco fazemos que é praticar Maçonaria fora dos Templos. Algo que nosso Irmão Lauro fez com maestria ao longo de sua relativamente curta trajetória terrena.


Ao pesquisarmos sobre o histórico do Rito Brasileiro, nos deparamos com material produzido pelo Supremo Conclave do Brasil do Rito Brasileiro de Maçons Antigos, Livres e Aceitos onde afirmam, pelo menos dois Irmãos, que o Irmão Lauro participou das primeiras Sessões deste Rito. Sendo que um destes Irmãos declara que o Irmão Lauro foi quem trouxe a ideia da criação deste Rito.


A título de curiosidade pesquisamos pela assinatura de Irmão Lauro. Não sabemos se a assinatura da Figura 2 foi feita antes ou depois da sua Iniciação, entretanto os três pontos aparecem no “i” de Severiano e no “diérese” de Müller. Segundo o Irmão Kennyo Ismail os três pontinhos não estão presentes na Maçonaria Universal, e sim apenas nos Ritos de origem francesa, como por exemplo o REAA (Rito Escocês Antigo e Aceito). O Irmão Kennyo acrescenta que segundo “Ragon, em sua obra ‘Ortodoxia Maçônica’, o triponto começou a ser oficialmente usado nas abreviações a partir de 12/08/1774, por meio de determinação do Grande Oriente da França. Chapuis evidencia que o uso já era adotado por algumas Lojas francesas anteriormente, como na Loja ‘A Sinceridade’, de Besançon, em ata de 1764”.

Figura 2 Assinatura de Lauro Severiano Müller

Fonte: CORRÊA, 1983, p. 211.


O Irmão Lauro, de 14/9/1912 a 30/7/1926, foi o 3º ocupante da Cadeira 34 na ABL, cujo Patrono é o carioca Antônio Pereira de Sousa Caldas (1762-1814), sacerdote, poeta e orador sacro. O acadêmico Lauro foi o 1º catarinense a ocupar uma Cadeira na ABL, sucedendo o Irmão José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco e sendo sucedido por Francisco de Aquino, arcebispo de Cuiabá e governante de Mato Grosso, sendo o 1º mato-grossense a pertencer à ABL. Atualmente a Cadeira 34 da ABL é ocupada, desde 23/10/2014, pelo pernambucano Evaldo Cabral de Mello, historiador, escritor, ensaísta e diplomata.


A produção literária do Irmão Lauro é diminuta. Segundo dados coletados da Wikipédia, ele foi autor de três obras: “A Liga de Defesa Nacional”; “Os ideais republicanos” (1912) e “Saudação a Hélio Lobo” (1919). Entretanto o acadêmico Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior, ocupante da Cadeira 36, ao receber na ABL o Irmão Lauro, defendeu o Confrade afirmando que “tendes, como aquele vosso colega, general e acadêmico, a produtividade em atos, melhor porventura que a da palavra falada ou escrita – a dos heróis, a dos apóstolos. De vós mesmo escrevestes: ‘Sou mais afeito a fazer do que a dizer’”. Uma comprovação de que não basta falarmos e escrevermos se isto não for acompanhado de obras concretas em prol do bem comum. Uma vez mais o Irmão Lauro demonstrou em atos ser um verdadeiro Maçom.


Em seu discurso de recepção ao Irmão Lauro, o acadêmico Afonso Celso, mencionando a contemporaneidade de Lauro Müller e Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, (1866-1909) destacou a alegria em “saborear uma única produção da vossa musa. É um soneto intitulado – ‘Sempre’ -, assim metrificado”:


Nem mais longe ficaste, nem mais perto

Por eu ficar aqui mais demorado,

Pois entre mim e ti creio e é certo

Que ser distante é ser aconchegado ...


Foi-se o vapor embora; no azulado

Só resta o fumo a tremular incerto

Enquanto coração descompassado

“Sem ti, - me clama -, o mundo está deserto”.


O amor corre ondulante sobre o mar,

Vem um tormento após tormento:

Tudo é no mundo feito para findar.


Só não se acaba a imagem tão querida

Que sempre, eterna, está no pensamento

De quem a ti adora mais que a vida.


Ao proferir discurso sobre a diplomacia do Barão do Rio Branco, em 16/08/1917, o Irmão Lauro afirmou que “cada entidade, pessoa ou nação, vive essencialmente de dois elementos conjugados; um é a sua força intrínseca, expressão da sua vitalidade, representação do seu valor, índice da mensurabilidade dos seus destinos; o outro adquire-se no convívio da sociedade e do mundo e pela atividade pela inteligência, que abrem as portas para a estima e para o conceito, que só o caráter sabe adquirir”.


Ao longo deste profundo e contundente discurso do Irmão Lauro, destacamos um trecho que nos parece atemporal e talhado a caráter para a situação política judiciária que vivenciamos em nosso querido Brasil, especialmente nos últimos anos:


Desarmar a Nação é desarmar todos os direitos que ela representa.


Correm maliciosos os tempos que vivemos e ainda que muito se deva esperar, na sociedade das nações, como na das pessoas, que os costumes subam de nível moral, nenhuma garantia possuirá de viver livre e soberano o país que na sua própria energia não funde o seu direito à vida independente.


Para a paz e para a liberdade, que não existem sem justiça, devem nortear-se os destinos nacionais; mas no roteiro de todas as travessias há riscos e perigos que só a prudência previdente, com o auxílio da coragem, sabe evitar ou vencer.


Estas e outras nobres qualidades existiam vigorosas na alma de Rio Branco.


Lauro Müller é nome de muitas vias, logradouros públicos e do município de igual nome, no sul de Santa Catarina, berço da exploração do carvão mineral no Brasil. Talvez um dos maiores reconhecimentos póstumos recebidos graças ao amigo engenheiro Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis que recomendou este reconhecimento. O atual munício de Lauro Müller (Figura 3), nasceu com a chegada da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina, ferrovia que o historiador Walter Zumblick denominou: Tereza Cristina a Ferrovia do Carvão em 1/10/1884, com a conclusão da Estação e instalações no início do ano de 1885.


Figura 3 Município de Lauro Müller, SC

Fonte: Rodrigo Luciano (https://www.engeplus.com.br/noticia/geral/2019/ )


A cidade de Lauro Müller, até o ano de 1905, recebeu vários nomes: Bom Retiro, Arraial da Mina e Mina dos Ingleses, esta última, comumente, chamada de Minas. Em 25/9/1905, passou a chamar-se Lauro Müller em homenagem a Lauro Severiano Müller. Em 30/8/1913, com a elevação de Orleans a município, Lauro Müller foi elevada à categoria de Vila. Em 24/12/1914, foi criado o Distrito de Lauro Müller e instalado em 12/1/1915. Como Distrito, Lauro Müller permaneceu até que, pela resolução n.º 89, de 25/10/1956, a Câmara Municipal de Orleans, integrada por diversos líderes desta comunidade, eleitos vereadores pela Distrito, autorizou o desmembramento, tendo sido esta Resolução aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado através da Lei n°273, de 6/12/1956. Em 20/1/1957 o município foi solenemente instalado.


O município de Lauro Müller, de acordo com a última estimativa populacional (2018), abriga cerca de 15.174 habitantes, com perfil econômico relacionado ao setor de serviços. No âmbito empresarial, destaca-se a forte presença das micro e pequenas empresas e a importante participação da indústria e dos serviços para a geração de empregos.


Quando Lauro realizou sua primeira viagem aos Estados Unidos da América em 1913 já como ministro e foi reconhecido pelos norte-americanos com um diplomata acima da média. Provavelmente um dos maiores reconhecimentos que recebeu em vida. Nesta oportunidade foi agraciado com o título de doutor honoris causa pela prestigiada Universidade de Harvard.


Outro importante reconhecimento, este no âmbito maçônico, foi o patronato da Augusta Respeitável e Grande Benfeitora Loja Simbólica Lauro Müller II 1694, de Florianópolis, filiada ao GOB-SC e fundada em 4/5/1956. Na Figura 4 podemos ver os Irmãos celebrando em 3/5/2023 na Sessão Magna comemorativa ao 67º aniversário de fundação.



Figura 4 Irmãos da ARGBLS Lauro Müller, 1694

Fonte: https://gobsc.mvu.com.br/site/loja-lauro-muller-comemora-67-anos/76u-2GRjTP-1g-3/nta.aspx


Segundo um Irmão da ARGBLS Lauro Müller, 1694, o motivo preponderante para adotarem seu patrono foi homenagear esta insigne personalidade catarinense. Perguntando sobre como e com que frequência compartilham a história e o histórico do patrono com os neófitos e demais Irmãos, obtivemos a resposta de que “a rigor, não há o costume de, logo após a Iniciação, compartilhar com o neófito a biografia do patrono, o que só acontece em eventos específicos onde são prestadas homenagens a ele”. Adicionalmente foi constatado que os Irmãos desta Loja procuram ampliar seus conhecimentos sobre seu patrono por meio de leituras nas escassas fontes maçônicas e, em algo mais abundante nas esferas políticas e históricas catarinenses e da ABL.


Certamente estes reconhecimentos são apenas uma pequena amostra do legado deixado pelo Irmão Lauro. Finalizando este tópico de reconhecimentos póstumos, não poderia de deixar registrada a alegria ao escolher de forma sincrônica o nome do patrono da nossa Cadeira 43 na AMVBL. Lembro que quando convidado recebemos a incumbência de escolher um patrono que tenha sido Iniciado na Sublime Ordem, já falecido e que tenha contribuído com produções acadêmicas relevantes. Diante da profusão de ótimos candidatos nossa intuição levou-nos a escolher um conterrâneo, sobre o qual conhecia muito pouco. Quis a sincronicidade que a Cadeira 43 da AMVBL que temos a honra de ocupar e a Cadeira 34 ocupada pelo Irmão Lauro Severiano Müller, perfazem a soma sete, que segundo o Irmão Boanerges B. Castro “é um número verdadeiramente sagrado e misterioso, o número dos números.” Não mediremos esforços para honrar nosso patrono, quer seja produzindo textos, escrevendo livros e ministrando palestras de tal forma que seu nome e legado continuem perpetuados na memória de todos nós brasileiros que amamos nosso torrão natal.


Ao escrever este simples panegírico tive a oportunidade de conhecer um pouco mais a história e principalmente as realizações do nosso Patrono da Cadeira 43 da AMVBL, Irmão Lauro Severiano Müller. Obviamente que o Irmão Lauro, como qualquer ser humano, não era perfeito e sim um homem que buscou lapidar suas asperezas ao longo da vida. Por exemplo, ao pesquisar com Irmãos da cidade de Itajaí, cidade natal do Irmão Lauro, além da parca quantidade de materiais maçônicos obtidos, ouvimos que ele foi um “grande e polêmico catarinense”. Posição em parte corroborada pelo Irmão da ARGBLS Lauro Müller, 1694, do oriente de Florianópolis, que declarou que a escolha do Patrono de sua Loja foi uma “homenagem a esta insigne personalidade catarinense”. Como diria Nelson Falcão Rodrigues (1912-1980) “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”.


Segundo Vicenzia (2016) durante o governo do Irmão Venceslau Brás Pereira Gomes (1868-1966), em 1917 o Brasil entrou na guerra contra a Alemanha, terra dos avós do Irmão Lauro. Em função de sua ascendência foi discriminado tanto por brasileiros natos como por descendentes de portugueses que o consideravam espião dos alemães, taxando-o pejorativamente de o “alemãozinho de Santa Catarina.” Sua resposta foi afastar-se do ministério das Relações Exteriores e respondeu aos seus detratores dizendo: “quem nasce nesta terra ou é brasileiro ou é traidor”. A história comprovou por meio de fatos e realizações que o Irmão Lauro era um verdadeiro brasileiro e um autêntico Maçom.


Seu caráter era inimputável, seu valor foi reconhecido desde o início, quando assumiu o primeiro ministério. O episódio de sua posse na vaga do Irmão José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco (1845-1912), deixou marcas profundas sobre quem era o Irmão Lauro Müller, pois ao discursar quando de sua nomeação deixou claro que estava sucedendo o Barão do Rio Branco, mas sem, contudo, substituí-lo. Uma bela lição para aqueles Irmão ávidos apenas por cargos e, incapazes de reverenciar seus antecessores.


O Irmão Lauro era definitivamente um liberal. Desenvolveu o seu caráter nos encontros do poder, mas sem jamais aceitar o lado confortável dos salões. Como fiel seguidor do pensamento de Herbert Spencer (1820-1903), filósofo, biólogo e antropólogo inglês, e um dos representantes do liberalismo clássico, apreciava o “pensamento seguro contra as extravagancias da vida”.


Adicionalmente o Irmão Lauro teve que suportar com galhardia o “fogo amigo.” Os Irmãos e Confrades da ABL, Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923) Cadeira 10 e José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque (1867-1934) Cadeira 22, com seus inflamados discursos xenofóbicos magoaram profundamente o Irmão Lauro. Mas como diz um aforismo lusitano de que “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe” coube ao Irmão e Confrade Medeiros e Albuquerque, em 1913, retratar-se ao saudar o Irmão e Confrade Lauro com esta frase lapidar “Rui lia livros. Müller lia homens e causas” e, acrescentou que “enquanto políticos triunfavam na política com a força e com o apoio dos grandes estados, ele [Lauro] sempre triunfou, a golpes de finura e talento”. (VICENZIA, 2016). Mais um exemplo de caráter ilibado deste valoroso Irmão.


Corroborando com autora que definiu o Irmão Lauro com “um homem honrado, de posições políticas fortes: um homem da paz, um conciliador, um diplomata de coração”, acrescentamos que após a produção deste simples panegirico, pudemos saber um pouco mais e ajudar na divulgação de sua história, seu histórico de realizações, seu legado e exemplo a ser seguido por nós Maçons.


Irmão Lauro, veio a óbito no Rio de Janeiro no dia 30/7/1926 aos 62 anos. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista, no bairro de Botafogo. Segundo uma renomada autora a vida de Lauro “foi um glorioso caminhar de vitórias e reconhecimentos, interrompido pela morte”. Ainda segundo esta autora, no final da vida Lauro foi homenageado pelo historiador Tobias Monteiro como uma das inteligências mais brilhantes do Brasil, conforme descrito no seu livro “História da América”.


Finalizado, tomamos emprestado do poeta humorista Emílio Nunes Correia de Meneses (1866-1918) que ocupou a Cadeira 20 da ABL, versos onde foi traçado o perfil do nosso homenageado:


De uma magreza de evitar chuvisco.

Tem a altura fatal de um para raio.

Tão alto que, se o aspecto lhe rabisco,

Na vertigem da altura até desmaio.


Hoje é o senhor cobiçado aprisco.

De tenros diplomatas em ensaio:

Astuto, na rijeza de obelisco,

Não nos encara: espia de soslaio.


De alma arguta e sagaz, nada quimérica,

Feita de tino e de sabedoria,

Tudo a seu ver é uma função numérica.


Mas de andar e viajar, tem a mania,

- Cometa diplomático da América

- Judeu errante da diplomacia.


Referências bibliográficas


1. ABL. Discurso de recepção do acadêmico Lauro Severiano Müller, proferido pelo acadêmico Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior. https://www.academia.org.br/academicos/lauro-muller/discurso-de-recepcao Acesso em 25/5/2024.

2. ABL. Discurso de posse do acadêmico Lauro Severiano Müller. https://www.academia.org.br/academicos/lauro-muller/discurso-de-posse Acesso em 25/5/2024.

3. AMVBL (Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras). https://www.amvbl.com/ Acesso em 18/5/2024.

4. GOB-SC. Loja Lauro Müller Comemora 67 Anos. https://gobsc.mvu.com.br/site/loja-lauro-muller-comemora-67-anos/76u-2GRjTP-1g-3/nta.aspx Acesso em 18/5/2024.

5. HISTÓRIA DO RITO BRASILEIRO. https://www.supremoconclavedobrasil.com.br/wp-content/uploads/2023/07/SCBRB-HISTORIA-DO-RITO-BRASILEIRO.pdf Acesso em 18/5/2024.

6. KONDER, Marcos. Lauro Müller: a pequena Pátria. Florianópolis: Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo; Fundação Catarinense de Cultura, 1982.

7. KONDER, Marcos. Lauro Müller: Ensaio biobibliográfico (Prêmio Hélio Lobo da Academia Brasileira de Letras). 2ª ed. Florianópolis, SC: Imprensa Oficial, 1957.

8. Lauro Müller: a história. https://lauromuller.sc.gov.br/wp-content/uploads/2021/12/170381_0345550001276783938_livro_lauro_muller.pdf Acesso em 16/11/2023.

9. MEMÓRIA POLÍTICA DE SANTA CATARINA: Lauro Müller. https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/1124-Lauro_Mueller Acesso em 7/4/2024.

10. MEMÓRIA POLÍTICA DE SANTA CATARINA. Biografia Brasílio Celestino. 2022. Disponível em: <https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/1129-Brasilio_Celestino>. Acesso em: 23 de maio de 2024.

11. MEMÓRIA POLÍTICA DE SANTA CATARINA. Biografia Lauro Müller. 2023. Disponível em: <https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/1124-Lauro_Mueller>. Acesso em: 23 de maio de 2024.

12. MUNICÍPIO DE LAURO MÜLLER. https://lauromuller.sc.gov.br/pagina-915/ Acesso em 21/5/2024.

13. NASPOLINI, Archimedes Filho. Capítulo 2 - Lauro Severiano Müller: Os homens que governaram Santa Catarina. https://www.4oito.com.br/noticia/capitulo-2-lauro-severiano-muller-8042 Acesso em 21/5/2024.

14. Sebrae/SC © 2019 SEBRAE/SC. Caderno de Desenvolvimento de Santa Catarina – Lauro Müller. Estudos e Pesquisas. 2. Sebrae. I. Ferreira, Cláudio. II. Tonelli, Soraya, III. Pereira, Paulo Teixeira do Vale. IV Título. Acesso em 16/11/2023.

15. VICENZIA, Ida. Lauro Müller: Cadeira 34, ocupante 3. Rio de Janeiro: Academias Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2016.

16. WIKEPEDIA. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lauro_Müller Acesso em 21/5/2024.

17. WIKEPEDIA.https://pt.wikipedia.org/wiki/Antônio_Pedro_de_Andrade_Müller Acesso em 21/5/2024.




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