Leonardo Elias - Membro Efetivo - Cadeira 56
A arte de fazer o bem é algo que sempre tocou profundamente meu coração. No mundo em que vivemos, onde as pessoas enfrentam desafios diariamente, estender a mão, oferecer ajuda ou simplesmente ser uma presença reconfortante pode ter um impacto enorme na vida de alguém. Fazer o bem, para mim, não é apenas um gesto esporádico ou uma ocasião especial, mas um estilo de vida. Aprendi ao longo do tempo que a prática de atos de bondade não transforma apenas quem recebe, mas principalmente quem doa.
Lembro-me de uma vez, há alguns anos, quando encontrei um senhor idoso que vendia doces em uma esquina de rua. Era um dia chuvoso, e ele estava ali, sob um guarda-chuva gasto, tentando ganhar o sustento. Passei por ele apressado, mas algo dentro de mim me fez parar. Comprei todos os doces que ele tinha e, ao fazer isso, vi a gratidão estampada em seus olhos. O gesto foi simples para mim, mas significativo para ele. Esse momento me mostrou que, às vezes, pequenas atitudes podem trazer um raio de luz a alguém que enfrenta dificuldades.
Fazer o bem pode acontecer de inúmeras maneiras. Pode ser através de ajuda financeira a quem precisa, como doações para ONGs, mas também através de ações que não envolvem dinheiro. Oferecer um ombro amigo a alguém que passa por um momento difícil, dedicar tempo para ouvir com atenção ou dar um conselho sincero são formas poderosas de praticar a bondade. Vivemos em uma época em que, paradoxalmente, temos cada vez mais conexões digitais, mas, ao mesmo tempo, mais isolamento e solidão. Ser gentil e presente pode ser um ato transformador, principalmente para aqueles que se sentem sozinhos.
A arte de fazer o bem tem tudo a ver com empatia. Colocar-se no lugar do outro é uma das capacidades mais belas que possuímos. Imagine-se carregando um peso muito grande sozinho – agora, imagine o alívio que seria sentir alguém ao seu lado disposto a compartilhar esse peso, mesmo que por um momento. Assim funciona a empatia: ela nos permite sentir, ainda que de forma breve, a dor e as dificuldades dos outros. E, ao fazer isso, nos tornamos mais humanos, mais sensíveis ao que se passa ao nosso redor.
Certa vez, participei de um projeto comunitário de revitalização de praças em minha cidade. Era uma iniciativa para transformar espaços públicos abandonados em lugares seguros e agradáveis para a população. Havia pessoas de todas as idades: crianças, jovens, adultos e idosos, todos unidos em prol de um mesmo objetivo. Durante a pintura de um dos muros, conversei com uma senhora que, emocionada, contou que aquela praça tinha sido um ponto importante de encontro durante sua juventude.
Aquele projeto não era apenas sobre reforma, mas sobre resgatar memórias e criar novas histórias para outros. Fazer o bem, nesse contexto, tinha um impacto coletivo, fortalecendo os laços da comunidade.
Gosto de pensar que fazer o bem é como plantar sementes. Nem sempre vemos o resultado imediato, mas, com o tempo, pequenas ações podem gerar frutos grandiosos. Talvez você já tenha ouvido falar do "efeito borboleta", em que uma ação mínima pode desencadear uma série de eventos. Da mesma forma, um ato de bondade pode se multiplicar, inspirando outras pessoas a fazerem o mesmo. O mundo precisa de inspiração – e nós, cada um de nós, temos a capacidade de ser esse sopro de esperança.
A bondade também é contagiante. Um estudo científico realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia demonstrou que, quando alguém presencia um ato de bondade, sente-se mais motivado a agir com generosidade. Isso me faz lembrar de um episódio cotidiano: ao ver alguém ajudando uma pessoa a atravessar a rua, somos tocados e, muitas vezes, inspirados a praticar nossa própria gentileza. Fazer o bem, portanto, tem um efeito cascata; ele reverbera na sociedade como um todo.
Mas não devemos confundir a prática de fazer o bem com algo que espera reconhecimento ou recompensa. É natural que, ao fazermos algo positivo, nos sintamos bem. Esse sentimento é uma espécie de “presente” interno que recebemos, mas não deve ser a motivação principal. Fazer o bem pelo prazer de ver o outro melhor é onde reside a verdadeira arte. Já conheci pessoas que, mesmo sem grandes recursos, encontravam formas de contribuir para o bem-estar de outros. Um exemplo disso é uma amiga que faz visitas semanais a um abrigo de animais abandonados. Mesmo sem dinheiro para grandes doações, ela oferece carinho, cuidado e atenção aos animais – algo que, para eles, faz toda a diferença.
A arte de fazer o bem também está ligada ao respeito. Em tempos em que as diferenças – sejam de opinião, crença, gênero ou qualquer outro aspecto – podem ser fonte de divisão, aprender a respeitar e entender o outro é um ato de bondade imenso. A empatia começa quando aceitamos o outro como ele é, sem julgamentos. Respeitar o próximo, mesmo que não concordemos, é um exercício de bondade que desafia nosso ego e nos faz crescer como pessoas.
Penso que a verdadeira beleza da vida está nessas interações e nas conexões que criamos ao ajudar os outros. Fazer o bem não é algo que deva ser forçado ou feito apenas por obrigação. Deve partir do coração, com autenticidade. E, mesmo que às vezes o mundo pareça indiferente ou insensível, cada ato de bondade conta – ele cria rachaduras na parede da indiferença, permitindo que a luz entre.
Em resumo, a arte de fazer o bem é um compromisso com a empatia, com o respeito e com o desejo genuíno de tornar a vida de alguém um pouco melhor. Pode ser algo tão simples quanto um sorriso, um gesto de gentileza, ou tão grandioso quanto um projeto comunitário. Todos temos o poder de fazer a diferença. Basta olhar ao redor, abrir o coração e agir. Afinal, como diz o ditado, “não podemos ajudar todos, mas todos podem ajudar alguém”. Que possamos ser a mudança que queremos ver no mundo, um ato de bondade de cada vez.
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