Michael Winetzki, MI, 33º da
Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras
Noite gelada. Véspera de Natal.
Na ponte à beira do rio, o homem pobremente vestido, tendo ao seu lado um saco de estopa, contempla as águas frias e escuras que correm abaixo. Está triste e pensativo. Pensava - como as águas tão belas podem ser tão cruéis.
Havia perdido tudo numa terrível enchente. As águas revoltas haviam levado a casa, a família, o cachorro, inclusive as fotografias e os documentos. Ele se salvara por estar trabalhando longe do local no momento da tragédia.
Não conseguiu voltar a trabalhar. A memória do que havia acontecido feria seu coração com uma insuportável tristeza. Só lhe haviam sobrado o vazio e a desesperança. Ao longe as luzes da cidade brilham, multicoloridas, e nos alto falantes soam músicas natalinas, que só fazem aumentar a dor.
Neste momento passa caminhando devagar um casal jovem, abraçado, feliz, e a moça sente um súbito impulso, para e pergunta: - Senhor, o senhor está com algum problema, posso ajudar em alguma coisa?
Lágrimas mansas afloram nos olhos do velho. – Não moça. Obrigado. Só estava pensando que não tenho lugar para passar o Natal. Nem tenho mais lugar neste mundo.
- É claro que tem! Por favor, aceite meu conselho. Vá até o endereço que vou anotar e procure alguém que toma conta do lugar. Diga-lhe que você foi enviado por mim, Marina, em nome de JOÂO 3:16. E Feliz Natal. Daqui a pouco nós o encontraremos lá.
O homem se dirigiu lentamente até o local, era um salão grande, ficava próximo. A porta estava aberta e logo uma bela moça se aproximou e o recebeu com um manso sorriso quando ele disse a que vinha: - JOÃO 3;16.
- Entre senhor, por favor, estamos preparando a ceia de Natal. O senhor parece estar precisando de um banho quente. Tem um banheiro ali. Talvez eu consiga arranjar algumas roupas limpas.
Depois do banho, refeito, encontra na ampla sala algumas outras pessoas como ele, pobres, que vagavam sem esperança pelo mundo, e um grupo de jovens preparava uma linda mesa, cheia de delícias.
Pergunta ao homem do lado: - O que é isso aqui? E a resposta: - é o salão de festas da maçonaria. E os jovens são da Ordem de Molay e do Arco Iris. Eles fazem esta ceia de Natal todos os anos e sempre procuram ajudar pessoas como nós. Eu estive aqui no ano passado.
Neste momento chegava o casal que havia encontrado antes. A longa mesa já estava posta e o rapaz postado à cabeceira, toma uma Bíblia nas mãos e começa a dizer.
- Sempre fazemos o possível para aliviar o fardo de quem sofre e apesar de nossos poucos recursos temos conseguido. Não podemos mudar a vida de vocês, isso compete a cada um, mas podemos oferecer um pouco de comida, quem sabe um banho e roupas limpas, mas principalmente a esperança de que o amanhã pode ser melhor. Nossos tios maçons nos ensinam que todos temos a obrigação de tornar o mundo um lugar melhor para viver.
- E o que fazemos é baseado neste Livro Sagrado, que em JOÂO 3:16 nos ensina: POIS DEUS AMOU O MUNDO DE TAL MANEIRA, QUE DEU SEU ÚNICO FILHO, PARA QUE TODO AQUELE QUE NELE CRÊ, NÃO PEREÇA, MAS TENHA A VIDA ETERNA.
- Há alguns colchões no fundo do salão onde vocês poderão dormir e amanhã de manhã começa um novo dia, e quem sabe, para cada um de vocês uma nova vida.
Foi a mais deliciosa refeição da qual ele se lembrava em muitos anos. Na manhã seguinte, ao sair para a rua, refeito, caminhava alegre, cheio de esperanças renovadas de que, apesar das dificuldades este ano seria diferente, muito melhor do que os anos passados, dos quais começava a se esquecer.
A imagem do sacrifício do Salvador, ainda presente em sua memória, e as palavras de João, iam suavizando o sofrimento e lhe dando novas esperanças
E enquanto caminhava, lépido, saudava com um largo sorriso a todos os passantes;
FELIZ NATAL! FELIZ NATAL!
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