top of page

MAÇONARIA E GLOBALIZAÇÃO Paralelos, desafios e perspectivas



Aislan Fabricio Nunes da Silva Pansardis

A∴R∴L∴S∴ Templários da Paz n° 3969




A Maçonaria, uma fraternidade global que remonta a séculos, permeia as fronteiras nacionais e culturais. Esta instituição, com seus valores fundamentais de liberdade, fraternidade e igualdade, tem desempenhado um papel crucial na formação de sociedades e na promoção de valores universais. Mesmo com sua longa existência, a Maçonaria tem mostrado uma capacidade notável de se adaptar e prosperar na era da globalização.


A globalização, um fenômeno complexo e multifacetado, representa a crescente interconexão política, econômica, cultural e social entre as nações. Originada dos avanços tecnológicos em transporte e comunicação, a globalização tem remodelado as relações internacionais desde a década de 1980 e pode ser categorizada em três tipos principais: econômica, cultural e da informação.


Primeiramente, vamos entender um pouco mais sobre a globalização para incluí-la no contexto da Maçonaria.


Globalização: Conceitos e historicidade


A globalização pode ser definida como “mundialização”, trata-se do fenômeno de integração mundial no que se refere à economia, transporte de mercadorias, informação e cultura.


A globalização é por vezes vista como um processo que, de forma figurativa, eliminou as fronteiras entre os territórios e criou um espaço global integrado, isso implica que os fluxos ocorrem agora numa escala global.


A origem da globalização é um assunto muito discutido por estudiosos. Alguns argumentam que esse processo começou com o surgimento do sistema capitalista de acumulação no mundo. No entanto, a teoria mais aceita é que a globalização começou com as Grandes Navegações nos séculos XV e XVI.

“O termo 'globalização' começou a circular no final dos anos 80 para sugerir a ideia de unificação do mundo, como resultado dos três processos que marcaram o fim do ‘breve século XX’.” (Hobsbawm, 1995)


Fases da Globalização


A primeira fase da globalização começou com as Grandes Navegações, integrando a economia global. Inclui também a Primeira Revolução Industrial do século XVIII, que ampliou a produção, consolidou o capitalismo e revolucionou a comunicação com a invenção do telégrafo.


Na segunda fase da globalização (meados do século XIX até o fim da Segunda Guerra Mundial), os países europeus expandiram seus domínios coloniais para a África e a Ásia em busca de matérias-primas mais baratas. Avanços significativos foram observados nos meios de comunicação e transporte, bem como na urbanização e industrialização.


A terceira fase da globalização, de 1945 a 1989, incluiu o fim da Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Neste período ocorreu a Terceira Revolução Industrial, que impulsionou inovações tecnológicas e científicas. Também consolidou o capitalismo financeiro e a expansão de empresas transnacionais, marcas da globalização atual.

 

Ilustração: violetkaipa / Shutterstock.com


A quarta fase da globalização, iniciada nos anos 1990, é marcada por fluxos intensos de mercadorias, capitais e serviços. O neoliberalismo avançou para países emergentes e subdesenvolvidos, particularmente na América Latina. Novas redes geográficas, facilitadas por tecnologias da informação como a internet e redes sociais, surgiram neste período. Fase tecnológica e de rápida circulação de informação, é a que estamos hoje.


Maçonaria e Globalização


A Maçonaria, com sua longa história de fraternidade, filantropia e princípios éticos, apresenta paralelos interessantes com o processo de globalização. Ambos promovem a união entre diferentes povos e culturas sob ideais comuns, como a integração internacional, a influência cultural e as redes de comunicação.


Podemos considerar que a Maçonaria já é globalizada desde o princípio, até mesmo em sua era operativa. Pois como construtores muito requisitados que detinham o conhecimento das construções, algo de extremo valor para a época, eram a única classe trabalhadora que podia migrar de uma colônia para outra, os conhecidos “Free-Masons” ou “Pedreiros Livres” Isso permitia levar não somente a arte da construção, mas também a cultura de um outro local para outro. Informações discutidas em tavernas ao final do dia permitiam que pedreiros de diferentes localidades pudessem se encontrar e trocar experiências.


A globalização não serve apenas para difundir e divulgar as diferentes formas e culturas do mundo, mas também ajuda a unificar e, também, preservar. A exemplo do futebol.


Antigamente o esporte tinha regras diferentes dependendo da cidade onde se era praticado. Até que no vigésimo sexto dia do mês de outubro do ano de 1863 da E.V.’. houve uma reunião na “Freemason’s Tavern, Queen Elizabeth N° 11” em Londres, uma reunião de maçons definiu as regras do futebol que hoje conhecemos, e neste dia foi fundada a The Football Association. Este encontro ajudou a separar o futebol ou soccer, Rugby e Handboll, que antigamente as regras se misturavam[1].


Como já dito, a globalização tem algumas vertentes, como econômica, transporte, cultura e educação. A Maçonaria se enquadra bem no quesito Educação e Cultura, pois mantêm valores e princípios éticos que ajudaram e ainda ajudam em situações relevantes mundialmente. A exemplo o que os maçons atuais já ouviram falar como a independência de países da América Latina, revolução americana e abolição da escravatura.


Desafios


No entanto, a globalização também apresenta desafios significativos para a Maçonaria. A diversidade cultural, a mudança de valores e a crescente secularização são questões críticas que a Maçonaria deve enfrentar para continuar relevante em um mundo globalizado. Estes desafios incluem a preservação da identidade, a adaptação às mudanças, a inclusão à diversidade e questões éticas complexas.


Podemos citar questões como as mulheres na Maçonaria, homoafetivos, portadores de deficiência, entre outros. Questões amplamente debatidas no mundo globalizado, principalmente devido ao advento da internet. Ou ainda os maçons divulgarem mais sua condição de membros e os objetivos e práticas da Maçonaria, tornando-a mais acessível, bem-vista e eliminando preconceitos por desconhecimento.


Essas e outras questões ainda geram enormes discussões e divergências de opinião dentro da Ordem e causam “frio na espinha” de alguns maçons só de tocar no assunto.


Tecnologia


O avanço cada vez mais rápido da globalização se dá pela atual comunicação instantânea, a internet que está disponível para a maioria das pessoas proporciona essa velocidade.


Para se manter relevante, a Maçonaria deve continuar a se adaptar às mudanças trazidas pela globalização. Isso inclui a adoção de novas tecnologias, a modificação de práticas para refletir valores contemporâneos, o reforço do compromisso com a inclusão e a diversidade, e a abordagem proativa de questões éticas relacionadas à justiça social.


Exemplos tecnológicos:


Não podemos ignorar as tecnologias disponíveis no mundo globalizado, e alguns exemplos do emprego dessa tecnologia de algumas lojas maçônicas pelo mundo são:


Lojas Virtuais: As lojas Maçônicas virtuais têm como principal característica realizar as suas reuniões fazendo uso de recursos tecnológicos de encontros virtuais. Antes do surgimento das lojas virtuais, foi criada em 1998 a Internet Lodge nº 9659, da Grande Loja Unida da Inglaterra, que a rigor não se trata de uma loja virtual, mas é uma pioneira na interação online entre seus membros. A primeira Loja Maçônica virtual do mundo é a Castle Island Virtual Lodge nº 190, criada em 2012 e pertencente à Grande Loja de Manitoba, no Canadá. A segunda Loja Maçônica virtual do mundo é a Endeavour Virtual Lodge nº 944, criada em 2018 na Grande Loja Unida de Victória, na Austrália.


Maçonaria Virtual no Brasil: A ARLS Lux in Tenebris nº 47, fundada no dia 25 de setembro e instalada no dia 1º de outubro de 2020, é a primeira Loja Maçônica virtual regular do Brasil e uma das primeiras do mundo (provavelmente a terceira) com Carta Constitutiva de uma Potência Maçônica Regular e Reconhecida, filiada à GLOMARON.


Surgiu devido ao contexto da pandemia da COVID-19, mas se mantêm ativa até os dias de hoje, tendo incentivado a criação de mais uma Loja virtual regular e reconhecida, a Luz e Conhecimento n° 103, filiada à GLEPA.


Todas essas lojas são compostas por maçons regulares que frequentam lojas físicas. Não há ritualística virtual; as lojas se restringem apenas ao “tempo de estudos” e a palestras com ilustres convidados.


Essa Maçonaria Virtual não tem relação alguma com golpistas que se passam por maçons e criam “lojas virtuais” prometendo a seus adeptos torná-los maçons e, por vezes, até prometendo enriquecimento e poder. Essa prática tem se tornado cada vez mais comum e muitos se filiam a essas lojas pretendendo se tornarem maçons, mas na realidade, não o serão.


Recrutamento online: Maçonaria não recruta membros em redes sociais, conforme já mencionado. Entretanto, a maioria das Potências maçônicas brasileiras, a exemplo da Grande Loja Unida da Inglaterra (UGLE) possuem em suas páginas oficiais a possibilidade de inscrição de intenção para ingresso na Maçonaria. Isso apenas ajuda indivíduos que desejam entrar na ordem, mas não conhecem nenhum maçom. Este processo é realizado com cuidado, e o preenchimento de intenção não garante o ingresso do interessado. A etapa de sindicância ainda é indispensável e necessita existir uma loja física na cidade do candidato.


Acesso a acervos online: Antigamente era mais complicado o estudo das práticas maçônicas, pois eram baseados em sua maioria em livros, que nem sempre eram traduzidos para os idiomas da maioria dos Irmãos no Brasil e no mundo.


Hoje temos a possibilidade de assistir palestras online, até pelo YouTube, do Brasil e do mundo com legenda, realizar cursos sobre Maçonaria ou matérias relacionadas que contribuem para o aprendizado maçônico, pós-graduação em maçonologia que permite conhecimento sobre a História e Filosofia da ordem e até a divulgação da Escola Autêntica de Maçonaria (a maioria tem acesso à Escola Romântica, onde várias informações não possuem conteúdo acadêmico e não tem fontes. A Escola Autêntica é um método acadêmico e científico de divulgar informações verdadeiras sobre a ordem) mais conhecida no Brasil pela Revista C&M Ciência e Maçonaria, jornal científico de divulgação gratuita sobre Maçonaria, totalmente baseada em pesquisas com metodologia acadêmica.


Maçonaria e Globalização: A Caminho do Futuro


A globalização, sendo um processo em constante evolução, continuará a influenciar a Maçonaria nos próximos anos. Com a aceleração da digitalização e a crescente interdependência das economias e culturas globais, a Maçonaria enfrentará novos desafios e oportunidades.


Isso pode envolver a adoção de novas plataformas digitais para a comunicação entre os membros, a utilização de tecnologias de aprendizagem online para a educação maçônica e a exploração de novos meios para realizar cerimônias.


Concluindo, a Maçonaria, uma fraternidade global com uma rica tradição histórica, tem a capacidade de não apenas sobreviver, mas prosperar na era da globalização. Ao enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades apresentadas pela globalização, a Maçonaria pode continuar a desempenhar um papel importante na promoção dos valores universais de fraternidade, igualdade e liberdade no século XXI.

 


Bibliografia


Aslan, N. (2008). A Maçonaria Operativa . A Trolha.



Dallari, P. (05 de 07 de 2017). Como, e quando, surgiu a globalização. Fonte: Jornal USP: https://jornal.usp.br/?p=98637


Desconhecido. (03 de 08 de 2015). History of Football - The Global Growth. Fonte: FIFA: https://web.archive.org/web/20150803234900/http://www.fifa.com/about-fifa/who-we-are/the-game/global-growth.html


Guitarrara, P. (17 de 06 de 2024). Globalização: o que é, causas, características, efeitos. Fonte: Brasil Escola: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/globalizacao.htm


Hobsbawm, E. (1995). Era dos Extremos (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras.


Ismail, K. (04 de 01 de 2023). escola autêntica. Fonte: No esquadro: https://www.noesquadro.com.br/tag/escola-autentica/



Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia (25 de 09 de 2020). Augusta e Respeitável Loja Simbólica Lux in Tenebris nº47. Fonte: GLOMARON: https://www.glomaron.org.br/47luxintenebris


Menezes, H. S. (21 de 02 de 2019). A Maçonaria e o futebol. Fonte: Freemason.pt: https://www.freemason.pt/a-maconaria-e-o-futebol/


Revista Ciência & Maçonaria. (s.d.). Fonte: https://www.cienciaemaconaria.com.br/index.php/cem


Rogerio Habesbaert, P. G. (2006). A nova des-ordem mundial. UNESP, 160.


Rogerio Habesbart, E. L. (s.d.). O território em tempos de globalização. Fonte: UERJ: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/49049/32762

 

 

 

 

 


498 visualizações2 comentários

Posts recentes

Ver tudo

2 Comments


Um artigo instigante e atual. Penso que, embora as ferramentas digitais possam complementar as atividades maçônicas e facilitar certos aspectos das operações de lojas, muitas jurisdições maçônicas sustentam que as cerimônias de iniciação e de ministração de graus devem ser conduzidas pessoalmente para manter a autenticidade, a tradição e a sacralidade da experiência maçônica.

Like

Meu Irmão e Confrade Isautonio, excelentes reflexões compartilhadas! Que continuemos a fomentar o grande e histórico poder de nossa Fraternidade de aperfeiçoamento dos costumes! 👏👏👏👏👏


Like
bottom of page